Dom, ter ou não ter? Eis a questão



Acredito que os músicos verdadeiros não escolheram serem músicos. Apenas foram escolhidos pela música, e se deixaram render por ela de uma forma natural, apenas permitindo e permitindo. Você entende como é? Eu posso gostar de escultura. Posso, admirar a escultura de forma sobrenatural, mas isso não quer dizer que eu tenha a paciência de ficar o dia inteiro com um cinzel e uma mareta na mão desbastando pedra. E ai que se separam os que possuem o dom e os que não.





A palavra Dom vem de dádiva, algo eu lhe e dado sem ser pedido ou merecido.Já vocação é a voz que chama de dentro. Há pessoas que levam jeito pra uma coisa, a fazem bem, mas não sentem desejo de caminhar nessa direção. Outras são levadas pelo impulso interior sem hexitar. O poeta Rainer Maria Rilke escreveu certa vez em outras palavras que basta você concluir que a arte pra você não seja uma necessidade intima, para você se sentir desobrigado de seguir nesse caminho.


Certa vez, após receber uma série de elogios de algumas pessoas que acabaram de me ouvir tocar uma música, uma delas disse “a gente, mais pra quem tem o dom não e nada de mais tocar assim, e fácil demais” como se eu não merecesse os elogios. Foi ai que me passou pela primeira vez na cabeça a idéia que as pessoas têm sobre dom, me passou um flashback na minha mente de todas as noites que eu fiquei acordado até tarde fazendo exercícios pra ganhar agilidade nos dedos. Do tempo que eu ficava tentando tirar músicas de ouvido e do quanto foi difícil compreender o sistema das harmonias e assim por diante. Então depois de meditar sobre o assunto eu cheguei à seguinte definição do que é o Dom pra mim.


Dom e como uma paixão que minimiza a “penosidade” do esforço tornando o labor da obra prazeroso. E o gostar não só do fim, mas do meio que leva ao fim. Ter o dom e como ter um filho. Ele jamais sairá de você.
Você pode escolher muitas coisas na vida, mas algumas têm que vir de dentro.

O problema de viver iludido com alguma coisa da qual você não tem realmente talento e perde a chance de se encontrar naquilo que realmente você é bom. Todo mundo tem habilidade para se destacar em algo. Até mesmo dentro da música existem muitos seguimentos interessantes que não necessariamente precisa de talento musical. Um caso interessante sobre isso é a do empresário Ricardo Slemer que abandonou a carreira musical como guitarrista pra se tornar um dos maiores empresários do mundo. Ele só tomou essa decisão após promover um festival de jazz onde pode ver de perto a diferença entre o profissional e o amadorismo e então concluiu que não era pra ele esse caminho. E seguiu em outra direção baseado naquilo que reconheceu ser realmente sua vocação.


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